sábado, outubro 8

Gasoline

Talvez você já tenha lido este texto - provavelmente daqui. Esse é o meu outro blog, onde outrora eu dediquei meu tempo a escrever sobre minha vida em geral, com uma ênfase maior nos meus antigos amores. Parei de escrever nele por alguns motivos que não são (somente) preguiça, mas alguns textos talvez ainda sirvam pra algo na vida de alguém. Como esse aí embaixo.


Junte isso ao fato de que eu não quero deixar esse blog mais parado do que já tá, e temos esse post de hoje. Tô trabalhando em algo, juro, mas por enquanto fiquem com isso daí.


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Sabe-se que nada é perfeito. Tudo o que é material - objetos, plantas, protozoários, atendentes de telemarketing - possui defeitos incorrigíveis e está fadado a ser imperfeito pelo resto de sua existência. E aparentemente os objetos, plantas, protozoários, atendentes de telemarketing e todos os seres vivos no geral aceitavam suas falhas e conviviam muito bem com isso. Ou pelo menos até a chegada dos humanos.

Denominados por eles mesmos como a espécie mais inteligente do Universo - o que entra em contra-senso com o Órgão Galáctico de Nivelação, Avaliação e Resolução de Babaquices em Geral; segundo eles, uma espécie que ordenha e cozinha vacas não pode ser considerada inteligente, uma vez que o críquete bovino é uma atividade muito mais divertida e produtiva para a sociedade em geral - os humanos não são capazes de se contentar com o que são, o que os leva a uma busca cega e interminável pela perfeição. Durante todo o seu tempo e utilizando todos os meios imagináveis eles tentam, inutilmente, alcançar o patamar mais alto de todas as criaturas do Universo: o de um deus.

Obviamente é impossível para qualquer criatura viva virar um deus, já que nem mesmo os maiores especialistas de metafísica existentes nesta dimensão conseguem comprovar, de fato, a existência de tais entidades. E bem no fundo os humanos também sabem disso. Mas sua crença (leia crença como um eufemismo para babaquice) é tão grande em relação aos seres divinos, e sua vontade é tão grande de ser um deles, que a grande maioria opta por fingir ser alguém perfeito e sem problemas, somente para os outros de sua espécie o admirarem secretamente enquanto fingem não estar nem aí porque estão fingindo que também são perfeitos, fazendo os outros os admirarem secretamente enquanto fingem não estar nem aí porque estão fingindo que também são perfeitos, fazendo os outros os admirarem secretamente enquanto fingem não estar nem aí porque estão fingindo que também são perfeitos, fazendo com que no final todo mundo saiba que ninguém presta nessa porcaria de sociedade.

E é aí que o indivíduo perde totalmente o controle. Sabendo que ele e toda sua espécie provavelmente não poderão ser deuses, ele escolhe uma pessoa aleatória que viu uma vez na TV, no trabalho ou no colégio para adorá-la, amá-la, endeusá-la. Normalmente essa pessoa é extremamente bonita, do sexo oposto do indivíduo e ele nunca, absolutamente NUNCA, terá uma chance pelo menos de conviver com ela. Aí o cara pega e chama essa pessoa aleatória de "meu amor platônico".

O objetivo de ter um amor platônico é simples. Como você sabe que sempre saberá que sabe que sempre soube que nunca saberá ser um indivíduo perfeito, então escolhe uma outra pessoa qualquer para ser perfeita por você. A idéia de ser uma pessoa inatingível, por sua vez, serve para você nunca saber os defeitos dessa pessoa. Olhando-a de longe ela sempre parecerá linda, angelical, maravilhosa, com pó de pirlimpimpim ao redor dela. Desse jeito você nunca saberá que na verdade sabe que ela também não passa de uma humana qualquer. Isso acaba servindo como uma espécie de viga-mestra da vida do indivíduo, dando forças para ele seguir em frente acreditando que nem todos têm um lado sujo e defeituoso dentro de si.

Observam-se, então, dois fatos importantes:

1- Atendentes de telemarketing não são humanos;

2- Amores platônicos não foram feitos para serem correspondidos.