domingo, abril 10

Online songs

Cada pessoa reage de um jeito diferente após ingerir uma determinada quantidade de álcool. Algumas ficam mais alegres, outras mais tristes, mais fáceis, mais gays, etc. Mas, resumidamente, todas elas (ou pelo menos uma grande parte) acabam fazendo coisas que provavelmente não seriam possíveis enquanto sóbrios. Eu, porém, não sou assim. Junto com meu nível de álcool no sangue cresce também a minha criatividade, minha inspiração filosófica. As maiores idéias que eu tive durante a minha vida foram formadas por causa da mardita da catchaça. Sob efeito do etílico, torno-me um genuíno pensador.

Talvez isso queira dizer que não sou capaz de pensar quando estou sóbrio. É, é algo a se pensar, acho que vou precisar beber. Enfim.



Esses dias teve o aniversário da minha amiga, a Patrícia. Aí o Rafael (o cara que fica com ela atualmente, também meu amigo) resolveu marcar alguma coisa, pra comemorar com a galera. Eis então que sobe uma janelinha no canto inferior direito do meu computador.

R4f1nh4 says:
cara, vamo no oldschool sexta akjdhakdjad niver da patricia

Perfeito.

O Oldschool é simplesmente o barzinho mais legal de Belém. Não somente pelo fato de ser um ambiente muito amigável e aconchegante, mas também porque ele talvez seja o único bar que não toca Burguesinha NENHUMA vez sequer durante a noite toda. Pelo contrário, só o que rola lá é o bom e velho Rock and Roll. Beatles, Rush, AC/DC, Stones, Doors, tudo o que há de melhor no Rock clássico pré-anos 90 estará com certeza na playlist do lugar. O programa perfeito pra quem quer se divertir, bater um papo, ou só escutar uma música boa enquanto toma uma cerveja pra esquecer as frustrações da vida. E ,bem, naquela noite de sexta eu estava frustrado. Por alguns motivos que não vêm ao caso agora (e talvez nunca venham), mas principalmente porque a garota em que eu estava interessado tinha acabado de ter puxado a Patrícia e dado um beijo nela.

garotas se pegando? EWW



Eu já tinha ficado com a Josie antes. Quer dizer, acho que ficar não seria o termo apropriado. Dois dias antes, na quarta-feira, eu havia deixado-a em casa depois de um longo dia juntos. Pegamos o ônibus, descemos, andamos, passamos pelos travestis assassinos nos cagando de medo, e chegamos na frente da casa dela. Na hora da despedida, um beijo e um boa noite. Um beijo só. Mas o suficiente para provavelmente ser considerada a chance de talvez ela ficar comigo no aniversário da Patrícia, o que nos leva de volta a noite do Oldschool, onde eu estava extremamente frustrado.

-CARA ASLKDJLKASD CÊ TÁ VENDO ELAS SE PEGANDO??
-Tô, cara.
-QUE MANEIRO PQP LOL
-Rafael.
-QUE
-A Josie tá pegando a tua garota.
-AH FODASE MANO ASLKDJKSADKJLSADSD ADJads asdasd jakd. oh, wait
E mais um cara ficou frustrado aquela noite.

Foi aí que as cervejas pareceram um pouco mais saborosas. Depois de um tempo, elas me olhavam tão amigavelmente que eu fazia o favor de entorná-las rapidamente, pra sua morte ser a mais rápida e menos dolorosa possível. Acho que consegui fazer isso, nenhuma delas reclamou no processo. Uma por uma foi sendo tomada saborosamente e penosamente ao mesmo tempo, até uma em especial chegar perto (perto até demais, ao ponto de bater na minha cabeça) e dizer as seguintes sábias palavras:

-Nohan. Vai lá, cara.
-aheudooh nao broder
-Por que?
-ora porque aouhafduhícia.
-O quê?
-ela quer ficar com a patrícia.
-Ah, sim. Mas o que isso te impede? Você não vai perder nada e EI, O QUE É ISSO, NÃO ME BEBE AHHHH glub

Cara, cervejas falam demais. Mas ela estava certa, eu não tinha nada a perder, né? Então pulei umas duas cadeiras e sentei ao seu lado. Puxei uns papos, disse que aquele beijo não tinha valido, e ela dava aquela cara de "ah, não sei se quero ficar contigo não heim". Tudo bem, eu pensei. Pelo menos eu tentei. E já estava quase voltando pro meu cantinho da alegria pra ver a banda que ia tocar, quando o Rafael se levantou. O desespero estava estampado em seu rosto, não queria que a Josie roubasse a Patrícia dele. Então, ele tomou a atitude mais filha da puta que podia tomar: olhou para nós dois, contou até três e, num gesto súbito (ou que pelo menos me pareceu súbito na hora), empurrou nossos rostos um contra o outro. Caralho, que viado. Mas bem, eu já estava na chuva, só restou me molhar.

Ficamos.

Mais tarde eu estava abraçado com a Josie assistindo a banda. Ou pelo menos ela assistia, eu estava somente pirando internamente com as músicas fuderísticas que estavam sendo tocadas. Puta que pariu, que banda do caralho. Mas alguma coisa me incomodava. No fundo eu sabia que tinha sido a segunda opção naquela noite, e aquilo estava atiçando algum neurônio ainda não destruído totalmente pelo álcool e me dando uma dor de cabeça filha da mãe. Neurônio escroto, como eu queria montar uma rebelião de não-consciência para tirá-lo do poder de uma vez por todas. Mas se eu sabia o tempo inteiro que era a segunda opção, por que então fiquei com ela? Isso ficou me perturbando até que reparei no rosto do vocalista. A única coisa que eu consegui pensar quando olhei pra ele enquanto tocava placebo foi:

Cara, esse doido pare MUITO Jesus.

Mas se ele era Jesus, o que estaria fazendo naquele barzinho de rock cheio de pessoas promíscuas? E pior, agindo tão promiscuamente quanto os outros? Ah, onde estaria aquela cerveja inteligente pra me explicar isso agora? Droga, dessa vez tinha que pensar sozinho. Talvez ele tivesse cansado dos mandamentos da igreja e decidido curtir os prazeres da vida. Afinal, um dia ele iria morrer de vez, assim como todos nós. É como diz a célebre frase: Do pó viemos, ao pó voltaremos. Não se pode perder tempo com a vida.

E, de repente, tive um insight. Tudo o que me incomodava começou a fazer sentido. Por que Jesus estava ali, por que eu estava tão encucado com o fato de ser a segunda opção, todas essas dúvidas sumiram num piscar de olhos. Dei um beijo na bochecha da Josie e mostrei um leve sorriso de satisfação.

Este post não é sobre a Patrícia, ou sobre a Josie, ou mesmo o Jesus roqueiro. Este post é sobre a filosofia que foi criada naquela sexta-feira ao som de Special K. A que me fez suspirar relaxado e aproveitar o restante da noite sem preocupações, e que achei que deveria ser compartilhada. Murmurei bem baixinho:

Da vagina viemos, a vagina voltaremos. Ou pelo menos tentamos.

-O que?
-Nada não, a noite que tá muito boa.

2 comentários:

  1. Não tinha percebido como soa ridiculo o meu nome... Josie? ahuahuahu
    Teoria inspiradora essa... ahuahuahu
    Não curte meninas se pegando? .-.
    by Josie

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  2. É Nohan, a cerveja falou contigo, foi importante.

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