sexta-feira, agosto 5

And so it begins

Cerca de 4 milhões de anos atrás, ainda antes de a primeira casinha de barro ser montada ou da religião sequer pensar em existir, um pequeno australopithecus acordou em sua caverna, extremamente irritado com a bola de massa imensuravelmente grande composta primariamente de hidrogênio (lembre-se que nessa época o fogo ainda não era conhecido, usar a expressão "bola de fogo" seria anacrônico) que insistia teimosamente em passar, com uma pontualidade e frequência incríveis, na frente de seu pequeno e confortável cafofo, sempre jogando aqueles malditos raios luminosos diretamente na sua cara.

"Awrgcnearghoc", resmungou, enquanto levantava-se com os olhos pesados. A língua dos australopithecus é bastante diferente das línguas correntes de hoje em dia, e a maioria de seus balbúcios provavelmente não possuía significado nenhum. Mas pode-se imaginar que ele tenha dito algo bastante parecido com "porra, bola de massa imensuravelmente grande composta primariamente de hidrogênio filha da puta do caralho", entre outros xingamentos de calão ainda mais baixo que provavelmente seriam desagradáveis demais para se ler. Australopithecus não eram exatamente conhecidos por seus bons modos. Mas ele já estava acordado, então resolveu continuar seguindo com a sua rotina.

A criatura havia criado um conceito de tempo baseado na posição em que a grande esfera de reações nucleares se localizava no céu. De acordo com seus cálculos, era mais ou menos a hora de tomar café. E não havia café da manhã melhor no período Neogeno da era Cenozóica do que um saudável e suculento filhote de mamífero, então ele partiu para a caça.

com um salzinho fica uma delícia

Não tardou a encontrar um. Tais filhotes eram alimentos tão comuns quanto o doritos é hoje. A única diferença era que, em vez de você pagar pelo alimento, era necessário um perfeito ataque furtivo para que o animal não pudesse perceber sua aproximação. E caso ela percebesse, era bom você estar preparado pra uma luta ferrenha e uma possível morte - muito provavelmente a sua. Mas aquele australopithecus não errava, não ele. Já tinha habilidade e confiança suficientes para executar uma criatura daquelas todos os dias e não ter que comer amoras, ou seja lá qual fruta existia naquela época. Lentamente, com sua pedra lascada em mãos, ele saiu de trás de sua árvore, observando atentamente cada movimento das costas do animal. Sua cauda estava quieta, seus movimentos pulmonares estáveis, nada que indicasse que ela havia percebido sua presença. Ele chegava mais perto, a cada segundo mais próximo de dar o golpe certeiro no pescoço que garantiria sua alimentação, sua energia necessária para sobreviver. Mais concentrado do que nunca, deu mais um passo em direção ao animal.

*CREC*

Ele não soube o que o assustou mais, o barulho do galho seco partindo sob seus pés ou a pressão feita por um par de patas sobre o seu peitoral quase que imediatamente após isso. Caiu com força no chão, provocando um forte estrondo. A criatura rugia furiosa a uma distância perigosamente próxima, suficiente pra ele sentir as gotas de saliva na sua cara e o hálito quente do animal. Cheirava como um bosque de flores silvestres depois de apodrecer completamente e de toda a fauna local ter cagado no lugar ao mesmo tempo. E ele se alimentava daquilo, pensou. Imaginou-se daqui a alguns anos, o que aconteceria se continuasse comendo somente aquilo. Prometeu pra si mesmo que, se conseguisse sair vivo dali, passaria a ter uma alimentação mais saudável a base de frutas e outras coisas vegetais desse tipo. Daria mais valor a sua vida, definitivamente.

Foi aí que alguém saiu de dentro de um arbusto. Se a religião já existisse, teria pensado que aquele ser ofuscado pela luz era um anjo enviado para lhe salvar, ou qualquer merda do tipo. Ele montou a criatura, tirou-lhe de cima de sua vítima e deu-lhe um golpe certeiro na garganta, derrubando-a. O australopithecus não acreditou naquilo. Aquela habilidade era uma coisa que nem ele possuía, e nem pensava em ter. Levantou-se e olhou para o rosto do seu salvador.

wazup

Aquilo era fantástico. Ele já havia visto outras criaturas parecidas consigo antes, mas nunca se sentira a vontade com nenhum. Sempre preferiu ficar sozinho vivendo sua vidinha, mas com aquele era diferente. Tinha gostado dele, e se sentia profundamente agradecido por ter salvado sua vida. Resolveu tentar se comunicar, na sua língua.

-Aghramooooob.
-Fiudargh - respondeu, para a sua surpresa. Então eles falavam a mesma língua. Continuou falando.
-Ratugtmbha meaghth?
-Anjteadjit.
-Ratattouille?
-Magikarp!
-ROFL.
-LOL.
-Kekeke

E assim começou a surgir primeira sociedade da pangéia. Os dois resolveram se juntar e viver juntos. Era um modo mais fácil de ambos sobreviverem, o mundo não tava fácil pra ninguém naquela época. O pequeno australopithecus ainda chegou a pensar mais um pouco sobre tudo o que tinha prometido enquanto lutava ferozmente com a criatura que quase o matou, mas resolveu desistir. Não queria ficar parecendo um viadinho do lado do amigo.

Isso, claro, foi antes de descobrir que ele na verdade era uma fêmea. Depois disso passou a tomar só herbalife e mandar o seu par caçar o jantar pra alimentar as crianças.